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Blogue que expressa de forma séria, ou nem tanto quanto isso, opiniões e divagações de temas tão diversos como jogos, artes digitais, cinema, música, banda-desenhada, literatura, animação, entre outras coisas que possam eventualmente surgir na minha cabeça. O objectivo é, após reflectir um pouco sobre um assunto, dar a conhecer ao Mundo a minha opinião sobre o mesmo, podendo dessa forma transmitir os meus ideais e quem sabe vir a influenciar outros através da palavra.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Reflexões - "A arte e o estado da mesma..."


Vi recentemente o filme Exit through the gift shop de Bansky e isso fez-me pensar sobre o que é arte e a forma como ela é designada e qualificada hoje em dia.

Imagem publicitária do filme. Retirada  do site: http://catracalivre.folha.uol.com.br  


Quanto ao que é a arte, é difícil encontrar uma definição satisfatória, que engoble, em poucas palavras tudo aquilo que a arte representa. Há quem diga que é uma forma de expressão, outros dizem que tem de servir um qualquer propósito. Que é uma forma de representação, do mundo, das ideias e dos sentimentos. Ou numa definição mais poética, a representação da alma do artista.

The Art Critic.
Oil on canvas de John A BLansdown 2010.
Imagem retirada do site: http://fineartamerica.com/ 


Muitas são as teorias e as discussões que envolvem o tema arte, e que tentam especificar e definir o tipo de objectos que podem ou não entrar dentro dessa categoria. A enciclopédia britânica online, define a arte como, “O uso do engenho e da imaginação na criação estética de objectos, ambientes ou experiências que possam ser partilhados com outros”. Gosto desta definição mas ainda assim acho que é bastante incompleta e limitada. No entanto, o meu objectivo, não é chegar a uma definição de arte que finalmente satisfaça todas as condições, que consiga englobar a totalidade daquilo que é a arte. Deixo essa discussão para os filósofos e pensadores do mundo, e crio para mim próprio uma “semi-definição” mais generalista e simples. Para mim a arte, é algo que alguém cria, a partir do nada ou de algo existente, com um objectivo que apenas esse alguém conhece, mas que ainda assim consegue causar algum tipo de sensação marcante nos outros, capaz de acrescentar algo à experiência, ou até mesmo à vida dessas pessoas. Esta minha definição parte do princípio que ela não será encarada de igual modo por todos. O que quer dizer, que enquanto algo, pode ser arte para alguém, não quer dizer que o tenha de ser para as outras pessoas. Portanto, basicamente, para mim a arte é algo que cada indivíduo considera para si ser arte. É claro que isto engloba quase tudo o que é criado, mas a verdade é que na minha opinião, se alguém criou algo, por muito simples que seja, que tenha causado noutra pessoa um qualquer sentimento que a tenha marcado, então, esse “objecto” criado deve ser considerado arte, mesmo que tenha satisfeito apenas uma pessoa. E em vez de não considerar isso arte, prefiro considerá-la como uma peça de arte muito, muito má.

Título e autor desconhecidos. 


É claro que depois surgem outras questões, que me levam a pensar no que é, hoje em dia considerado arte e que por isso está na moda. Vou dar como exemplo um daqueles quadros abstractos, que têm por exemplo uma linha recta e um ponto. Eu compreendo que isso surgindo num âmbito de tentar criar uma ruptura com os quadros que estejam na moda na altura, tal como fazia por exemplo, embora noutro contexto, Yves klein com os seus quadros todos azuis. Pode com toda a legitimidade ser considerado arte. E por vários motivos. Quebrou barreiras, gerou polémicas e criou em montes de críticos de arte um verdadeiro sentimento de repulsa. Por outras palavras, ele próprio e tudo aquilo que ele criou são de certa forma uma obra de arte, já que teve, um impacto directo no mundo artístico da época. Eu tenho perfeita noção, que até o meu sobrinho de cinco anos, ou até mesmo, quem sabe a irmã de um ano, conseguiriam copiar muitos dos seus quadros sem grande dificuldade. Bastava comprar uma tela, uma lata de tinta Yves Klein, um rolo e toca a pintar. No final o resultado seria bastante semelhante. Mas ainda assim até ele surgir, nunca ninguém se tinha lembrado de fazer arte da maneira como ele decidiu fazer e ser ainda arrojado ao ponto de a vender como obra de arte. E isso, só por si, é já praticamente uma obra de arte.

Relief lanétaire bkues sans titre de Yves Klein, 1961
Imagem retirada de:  http://www.yveskleinarchives.org/ 


Mas voltando à linha recta com um ponto, se esta em vez de um movimento de ruptura, tiver como único propósito, fazer passar ao mundo que o artista, é alguém que vê o mesmo de uma maneira muito especial, que só ele e meia dúzia de iluminados entendem. Quando na realidade, é sim, uma forma de disfarçar a falta de talento, de alguém que não tem jeito nenhum para a pintura, e usa esse método para realizar o sonho de ser pintor. Tenho sérias dificuldades em considerar isso uma obra de arte. Mas ainda assim essa é a minha opinião pessoal e outros tem direito à sua, e esta, pode entender essa linha e um ponto de uma forma que eu nunca serei capaz. E se isso, for algo magnífico o suficiente para mudar essas pessoas, então elas estão no livre direito de chamar a esse quadro uma obra de arte.

Chegando à conclusão, que a arte pode ser encontrada um pouco por toda a parte, e sobre diversas formas. Questiono-me então sobre qual é o valor da mesma. E dessa forma volto ao filme do Bansky, que inspirou todo este pensamento. É minha opinião, que o filme é todo ele uma obra de arte, que serve como crítica à própria arte. Os motivos são simples, o argumento tem uma série de falhas que me levam a pensar isso. A personagem principal adopta o nome de Mr. BrainWash, remetendo este para uma crítica à facilidade com que as pessoas se deixam levar pelas modas. Depois o tema principal do filme, apesar de ser descrito como um documentário sobre a arte urbana, parece sim girar em torno, de uma personagem que nunca tendo sido um artista, imita o que outros fazem, usando o nome desses outros artistas para se autopromover, e acabando por ser mais bem-sucedido que os próprios. No final a crítica que estes fazem acaba por ser que alguém sem qualquer talento especial, conseguiu levar meio mundo a pensar que ele era artista, e ganhar milhões de dólares com isso. E como se isso não fosse suficiente, todo o filme parece ser contado num estilo cómico e irónico tão típico das obras de Bansky, apesar de ele dizer no seu site que tudo aconteceu na realidade, tenho séries dificuldades em acreditar.

O nome da imagem é Kidding 2, mas não sei se este é o título original. 
É de Bansky e foi retirada do site: http://www.banksy.co.uk/ 


Mas por vezes a realidade é mais estranha e surreal que a ficção e às tantas eu estou enganado. Mas ainda assim, penso que o filme, de propósito ou não, acaba por tocar num ponto fulcral. Será que a arte hoje em dia não é demasiado sobrevalorizada? Eu aceito e compreendo que alguém que tenha posses para o fazer, deve proporcionar ao artista uma vida confortável e desafogada, comprando as suas obras a preços exorbitantes. Mas quando isto se baseia no facto desse artista estar na moda, e como tal, apesar de as obras do mesmo, nada dizerem ao comprador, este pagar uma quantia estupidamente elevada. Começo a achar que a arte começa a perder o seu verdadeiro valor. É claro que o objectivo do artista podia ser desde o início obter grandes lucros, e dessa forma o mesmo é cumprido da melhor maneira possível. Mas ainda assim, gosto de acreditar que a arte deve ser algo mais do que uma simples maneira de ganhar dinheiro. Gosto de acreditar que é algo que faz as pessoas crescerem por dentro, que as torna num ser mais completo, e mais em harmonia com o Mundo que os rodeia. E ver que esta parece, cada vez mais, ser transformada num objecto de moda e estatuto, que em vez de ter um efeito positivo e construtivo nas pessoas, acaba por servir somente, para garantir a alguém o estatuto de pertencer a uma classe mais elevada, seja porque tem dinheiro para comprar essa obra, ou porque é genial o suficiente para a entender, deixa-me genuinamente triste. Pois sinto que cada vez mais em vez de se criarem novas obras de arte capazes de espantar o mundo, criam-se estatutos e modas. E isso faz-me sentir, que aos poucos, a arte está a morrer.

Manifestação em Topeca, Kansas. 
Imagem retirada do site  http://imaginekansaswithoutart.blogspot.pt/  


Referências:

http://www.umass.edu/stpec/pdfs/wilsonreadings/DefinitionsofArtDavies.pdf - Um bom texto sobre as várias definições da arte ao longo dos tempos.

http://www.britannica.com/EBchecked/topic/630806/art - Definição de arte segundo a Enciclopédia Britânica Online.

Filme "Exit through the gift shop!" - Bansky 2010

http://www.banksy.co.uk/ - Site oficial de Bansky.

http://www.mrbrainwash.com/ - Site oficial de Mr. Brainwash

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