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Blogue que expressa de forma séria, ou nem tanto quanto isso, opiniões e divagações de temas tão diversos como jogos, artes digitais, cinema, música, banda-desenhada, literatura, animação, entre outras coisas que possam eventualmente surgir na minha cabeça. O objectivo é, após reflectir um pouco sobre um assunto, dar a conhecer ao Mundo a minha opinião sobre o mesmo, podendo dessa forma transmitir os meus ideais e quem sabe vir a influenciar outros através da palavra.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Reflexões - "A ilusão dos estereótipos."


São poucas as bandas desenhadas que nos marcam e fazem pensar, ao ponto de mudar mesmo, a nossa maneira de ver o mundo. Pelo menos, eu já há muito tempo que sigo diversos tipos de banda desenhada. Desde os comics americanos, às histórias mais profundas da velha Europa, terminando com os variados estilos asiáticos, dos quais o Manga é o mais conhecido. E diria que embora muitas vezes, sejam excelentes obras de arte, com desenhos absolutamente fantásticos, personagens de enorme profundidade e histórias extremamente complexas e bem trabalhadas. Na sua maioria, são apenas formas de entretenimento puro, incapazes de nos fazer pensar sobre a vida real de uma maneira diferente e que, apesar de nos prenderem durante bastante tempo às mesmas e nos proporcionarem grandes momentos de satisfação, raramente tocam em temas que nos marquem ou deixem a pensar profundamente. No entanto, por vezes encontramos pequenas pérolas que o fazem de forma brilhante. Ou porque falam de algo que nos toca de uma maneira que simplesmente não estaríamos à espera, ou porque falam de um tema tão real e tão próximo de nós, que apesar de quase nunca repararmos nele, quando somos chamados à atenção do mesmo, percebemos o quão “cegos” temos sido.

Esse é o caso de Angel Densetsu, um manga de Yagi Norihiri, que eu vi há já algum tempo e me fez pensar profundamente. Sobre a maneira como eu olhava e julgava os outros à minha volta, muitas vezes sem sequer me aperceber.

Capa do primeiro volume de Angel Densetsu de Yagi Norihiro. 
Retirada de:  http://mangafox.me/manga/angel_densetsu



Este manga conta a história de Kitano Seiichirou. Um rapaz com um coração puro, incapaz de fazer mal a qualquer ser vivo e sempre pronto a ajudar alguém em perigo. O seu próprio nome, é o de alguém com predisposição para fazer o bem, já que o Sei de Seiichirou significa verdade e sinceridade. Mas apesar disso. Kitano tem um grave problema, nasceu com a cara mais assustadora que alguém alguma vez viu. Dando-lhe a aparência de um criminoso sem escrúpulos, capaz de destruir alguém com um simples olhar. O que por sua vez, faz com que as pessoas o considerem imediatamente um demónio vindo de outro mundo e o temam, sem sequer se darem ao trabalho de o conhecerem verdadeiramente. Juntando a isso, a sua simplicidade e bom íntimo, que o levam constantemente a julgar erradamente as situações e a ver-se normalmente a ser mal-entendido pelos outros. Acaba muitas vezes por se ver metido em incidências, que vistas do ponto de vista das pessoas que estão de fora, leva a crer que ele é verdadeiramente terrível.


Imagem retirada do primeiro volume do manga Angel Densetsu de Yagi Norihiro.



E é nisso que este manga acaba por ser tão fantástico. Pois esquecendo todo o tom cómico do mesmo. Damos de caras com personagens e acontecimentos, que facilmente nos fazem lembrar a vida real e nos fazem perceber o quão parvos por vezes conseguimos ser. Retratos de pessoas, que vão desde aqueles que apesar de verem Kitano, a fazer boas acções à sua frente, continuam a recusar acreditar na sua bondade, devido ao aspecto assustador do mesmo. Até aqueles, que nem sequer se dão ao trabalho de analisar calmamente a situação e partem imediatamente para a explicação mais prática. Tudo isso é trabalhado de forma tão simples e credível, que facilmente conseguimos relacionar a história, a pessoas e eventos do mundo real. Acabando por ser uma reacção normal, sentirmo-nos um pouco culpados por em certa medida, fazermos parte desse grupo de pessoas.

Momento em que Seiichirou se apresenta aos restantes colegas, com esperança de ser considerado um rapaz normal. Em vez disso ficam todos completamente aterrados com ele.


Isso deixa-me a pensar. Quantas vezes durante a minha vida terei eu julgado erradamente alguém, devido exclusivamente, ao aspecto que essa pessoa tinha. É verdade que esses estereótipos nos são administrados desde criança. Ou porque as pessoas à nossa volta agem de certa forma perante os outros. Ou porque a televisão, os filmes, a própria literatura e a arte em geral. Institucionalizaram de tal forma aquilo que é o arquétipo do bem e do mal, do certo e do errado, do cómico e do sério. Que nós inconscientemente acabamos por julgar as coisas com base nessas representações, em vez de o fazermos por aquilo que elas realmente são.

Imagem retirada do blogue de Rebeca Hittchens
http://rebeccahitchens.blogspot.pt


Recordo-me por exemplo, de um episódio que se passou com um grande amigo meu do secundário. Ele é das pessoas mais calmas e pacíficas que eu já conheci, podendo-se brincar com ele sobre qualquer assunto sem que ele fique de todo incomodado com isso. Mas apesar disso, é também um preto de dois metros de altura e um ar que, quer queiramos ou não, consegue ser bastante intimidante. Um dia, estava esse meu amigo em casa e aparece o técnico da TV cabo para instalar a mesma. Ao vê-lo aparecer à porta, com os seus dois metros de altura, ficou de tal forma assustado que se recusou a entrar, voltando noutro dia com outro técnico a acompanha-lo. Nesse dia, uma das pessoas mais calmas e pacíficas que eu conheço, foi injustamente, temido e julgado pelo aspecto que tem, em vez de por aquilo que realmente é.

Alguns psicólogos acreditam que o facto de nós gerar-mos estereótipos. Se trata de um mecanismo de defesa, que nós usamos para mais facilmente nos adaptar-mos ao mundo. Os motivos são simples, se encontrar-mos alguém com características semelhantes às nossas, sentimos que fazemos parte desse grupo e torna-se mais fácil para nós sentirmo-nos protegidos. Por outro lado, se nos deparar-mos com características noutras pessoas, totalmente diferentes das nossas e as classificarmos como pertencendo a um determinado grupo. Se essas características, por exemplo, nos forem prejudiciais, pudemos facilmente evitar as pessoas que fazem parte do mesmo. 

Imagem retirada de: http://weheartit.com


De uma forma geral, um estereótipo é uma forma de evitarmos ter de fazer grandes esforços a tentar entender alguém, pois se conhecer-mos uma pessoa nova, que aparenta ter determinadas características que nós tenhamos visto anteriormente noutra pessoa. É mais fácil cataloga-la como pertencendo a um género de pessoas e assumir que ela tem todas as características desse grupo, do que tentar analisa-la e perceber aquilo que a distingue. Aquilo que faz dessa pessoa alguém único e inimitável.

Imagem retirada de: http://weknowmemes.com


É verdade que caminhamos para uma sociedade cada vez mais tolerante e menos dada a preconceitos e medos. Mais liberal e capaz de aceitar as diferenças que distinguem cada um de nós. Mas ainda assim, os estereótipos continuam a estar presentes em cada um de nós e são algo difícil de evitar. Já que é o nosso próprio inconsciente que nos obriga a fazer tal coisa, ao tentar proteger-nos de eventuais situações prejudiciais. Mas seria tão bom, se pudéssemos um dia ver-nos totalmente livres de tais algemas e podermos conhecer as pessoas, por aquilo que elas são verdadeiramente, ignorando completamente o aspecto das mesmas. Quanta coisa nova seria-mos nós capazes de descobrir e quantas pessoas não nos surpreenderiam, mostrando ser alguém muito mais especial que aquilo que nós inicialmente imagináramos. Eu por mim, vou continuar a tentar julgar todas as pessoas de igual forma, dando a cada uma delas a oportunidade de se mostrarem e revelarem por aquilo que realmente são, em vez de por aquilo que aparentam ser.

Referências:

http://mangafox.me/manga/angel_densetsu - Site onde se pode ver o manga completo de Angel Densetsu de Yagi Norihiri.

http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/ObviouslyEvil - Estereótipos típicos do vilão na televisão e no cinema.


http://www.andrewcusack.com/2010/09/21/stereotype-map/ - Alguns mapas da Europa e seus estereótipos, segundo o artista  Andrew Cusack.

http://www.simplypsychology.org/katz-braly.html - Algumas informações sobre o que são estereótipos.

http://www.simplypsychology.org/Prejudice%20and%20Discrimination.pdf - Um texto interessante e bastante completo acerca de estereótipos.

http://www.colorado.edu/conflict/peace/problem/stereoty.htm - O que é um estereótipo e alguns exemplos do mesmo.


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